
Domingos Tótora, formado em artes plásticas, é mineiro de Maria da Fé e, nessa cidade, há 15 anos, trabalha com a reciclagem de papelão, material que já virou móvel, papel de parede e objeto decorativo. Num trabalho de formiguinha, unindo garra e muito talento, ele já recebeu títulos como o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, na categoria Mobiliário, e o Prêmio Top XXI, na categoria Design Sustentável. Abaixo, entrevista concedida à revista Di Casa:
"Di Casa - Sustentabilidade virou moda. Como é realmente trabalhar com essa ideia e buscar algo além do óbvio?
Domingos Tótora: Sem dúvidas, sustentabilidade se tornou uma palavra 'fácil'. Há 15 anos, quando comecei a trabalhar reciclando papelão, não se falava nessa palavra. Acho que não tem que falar, é fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz. A fala tem que ser a prática. Acredito que design é isso: quando você desvia o olhar do óbvio. Trabalhar aliando arte e design faz com que o objeto tenha função e emoção ao mesmo tempo.
Di Casa - De onde surgiu a ideia de trabalhar com papelão reciclável? O que você busca com esse trabalho?

Domingos Tótora: A pesquisa com o papelão começou quando percebi o grande descarte deste nas portas dos supermercados da cidade. Sou muito curioso, comecei a experimentar. Daí surgiu a massa que é de uma plasticidade incrível, é a matéria que até agora tem me dado retorno da minha criação. É como se fosse um diálogo. Eu pergunto e ela me responde imediatamente. Gosto muito de uma frase do escultor egípcio Anish Kapoor: 'Interessa-me, nesta questão do material, aquilo que ele possui e que não é material, uma vez que creio que em todas as histórias dos materiais há um peso equivalente, ou melhor, imaterial'. Di Casa - Como é o processo de criação das peças com papelão? Domingos Tótora: Não tenho um processo de criação, um momento específico para isso. Vivo na criação. Moro no alto da Serra da Mantiqueira e convivo 24 horas com as formas orgânica da natureza exuberante daqui. Por isso estas formas saem no meu trabalho. Por exemplo, o Vaso com Frisos, que remete a uma casa de marimbondos, não existe uma intencionalidade. Depois de pronto é que a gente percebe a influência do que existe no meu entorno. Di Casa - Você trabalha a reciclagem de outros tipos de materiais ou apenas do papelão? Domingos Tótora: Por enquanto, tenho usado exclusivamente papelão e saco de cimento vazio, ainda não se esgotaram as possibilidades. Mas isso não quer dizer que estou fechado a experimentar novos materiais. Di Casa - E de onde vem a inspiração na hora de criar? Domingos Tótora: Sou impulsivo na hora de criar, não fico questionando isso ou aquilo. Di Casa - Que outro profissional você admira e indicaria o trabalho? Domingos Tótora: Irmãos Campana, pela brasilidade implícita nas peças que eles criam. Di Casa - Como surgiu a ideia de criar uma rede de artesãos? Domingos Tótora: Os artesãos são peças fundamentais na produção dos meus trabalhos, eles são responsáveis pela materialização dos objetos. Quando crio uma peça, faço um protótipo, levo para a oficina e os capacito para a produção da mesma. Assim, tenho a capacidade de produzir para atender ao mercado. Hoje, me considero muito mais sustentável pela qualidade de vida que dou aos meus funcionários do que por dar vida nova ao lixo."